Notícias
V Encontro do Laboratório de Estudos do Texto
LET realiza OFICINA DE SARAU
Profa. Mirian Abondancia (UECE)
Prof. Antonio Oziêlton de Brito Souza (UECE)
Diego Martins (UECE)
Contar, cantar e compartilhar histórias
Professora Miriam Abondancia – UECE
Saberes outros: Estudos e ações indígenas
“Saberes outros: estudos e ações indígenas” é um projeto de natureza extensionista (integrado à pesquisa), que parte do princípio de que a formação de professores em geral (e mesmo de outros profissionais) não leva em consideração do fato de que o Brasil é um dos países mais multilíngues/multiculturais do mundo, no qual são faladas, hoje, por volta de 200 línguas (incluídas aí as variedades de língua), das quais cerca de 170 são indígenas e outras 30, línguas de imigrantes (Oliveira 2000).
Especificamente em relação aos povos indígenas, no estado do Paraná, segundo dados oficiais do governo (2006), estão presentes as etnias indígenas Kaingang e Guarani, como quase 15.000 indivíduos (IBGE, 2010).
Entendemos que não considerar sua presença na história do país, além de um desrespeito aos povos originários, é uma perda em termos de diferentes possibilidades de compreender o mundo, uma vez que o conhecimento a que nós, não indígenas, temos acesso advém de uma única fonte/perspectiva: a eurocêntrica.
Por essa razão, propomos, por meio deste projeto, possibilitar que os acadêmicos participantes tenham oportunidade de construir ações pedagógicas diversas a partir de uma perspectiva outra, que atenda de fato a demandas indígenas, uma vez que as ações partirão deste olhar.
Metodologicamente, nos basearemos em Leyva e Speed (2008), que defendem o co-labor, segundo o qual “profissionais e comunidade [identificam] conjuntamente os problemas a resolver, deliberem ações a respeito e avaliem autonomamente o processo” (AMARAL, 2015).
O referencial teórico se sustentará nos trabalhos de intelectuais indígenas, como Inácio (2010) e Benites (2012), sendo que a primeira trata da pedagogia Kaingang e o segundo, da pedagogia Guarani.
O conjunto das ações a se desenvolver abrange: a) reuniões para estudar pedagogias outras (como a Kaingang e a Guarani); b) troca de experiências com indígenas (professores e outros profissionais); c) elaboração de material didático específico; d) sistematização e realização de atividades baseadas em políticas linguístico-educacionais específicas para comunidades indígenas.
Relato de experiência do Curso de Língua Kaingang na UEPG
Sabendo o quão necessário e importante é para os povos indígenas preservar suas línguas, dois acadêmicos Kaingang, Renato Pereira e Joel Anastacio, respectivamente alunos dos cursos de Odontologia e Agronomia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), em março de 2017 tomaram a iniciativa de colocar em prática uma ideia já cultivada ao longo de sua caminhada como acadêmicos universitários: propor a realização de um curso de língua Kaingang na instituição.
A proposta de realizar um curso de introdução à língua Kaingang dentro da universidade a princípio surgiu com o objetivo de proporcionar apenas a acadêmicos indígenas o resgate da língua, considerando que estes, quando se deslocam das suas comunidades em direção à cidade, acabam perdendo o contato direto com sua língua materna, o que muitas vezes faz com que acabem esquecendo o idioma.
O formato da proposta inicial foi sendo alterado a partir de reuniões e discussões realizadas entre os dois acadêmicos e a professora da instituição que acolheu a ideia do curso no âmbito do projeto de extensão “Formação inicial e continuada de professores de língua em comunidades multilíngues/ multiculturais”, que Renato e Joel passaram a integrar. Nas reuniões feitas, chegou-se à conclusão de que seria importante abrir a oferta do curso não apenas para a comunidade acadêmica indígena, mas também para pessoas não indígenas (inclusive comunidade externa) que tivessem interesse em conhecer uma nova língua que existe e resiste há muito tempo no país, a qual também é desconhecida por indígenas de outras etnias, alunos da UEPG.
A proposição do curso de língua Kaingang realizado na Universidade Estadual de Ponta Grossa entre maio e julho de 2017 seguiu os preceitos da pedagogia Kaingang, segundo a qual cabe ao professor Kaingang “[…] resgatar e valorizar as formas tradicionais Kaingang de repassar os conhecimentos para os jovens, porque essas formas não são meros métodos em fase de experimentação, mas sim metodologias aplicadas, avaliadas e aperfeiçoadas através dos tempos” (INÁCIO, 2010, p. 45, grifos nossos).
Leia o texto completo aqui
Publicação “Remédios Kaingang”
A proposta que deu origem ao livro “Remédios Kaingang” foi uma sugestão do casal Leila e Sergio Goitoto, que defendiam a importância de escrever um livro em que se registrassem receitas de remédios tradicionais Kaingang. “As crianças de hoje não sabem mais isso. Todo mundo pega remédio no posto, até para dor de cabeça. Ninguém mais conhece planta medicinal nem sabe fazer um chá”, disseram.
Para atender as exigências do CNPq, que financiou a obra, pensamos num formato de livro que fosse bom para se ter na escola. Mesmo que não pudéssemos, naquele momento, viabilizar um livro bilíngue, consideramos que a obra possibilitaria trabalhar questões culturais porque a partir dela o professor poderia discutir com os alunos a tradição de fazer remédios dos Kaingang.
Coletivo de Estudos e Ações Indígenas – CEAI
O CEAI é um coletivo situado no LET, que se dedica exclusivamente a desenvolver estudos e ações relacionadas aos povos indígenas. Começou sua trajetória em 2011, quando desenvolvemos nossos 3 primeiros projetos de pesquisa (financiados pela Fundação Araucária e CNPq), em conjunto com a comunidade Kaingang da Terra Indígena de Mangueirinha, PR, dos quais se originaram dois livros (uma cartilha de alfabetização em língua Kaingang e um livro de compilação de medicamentos tradicionais), um material didático de alfabetização em Kaingang e um outro livro (infanto-juvenil, trilíngue em português, Guarani e espanhol), que está em fase de edição. Em 2017, realizamos duas etapas do primeiro curso de língua Kaingang na Universidade Estadual de Ponta Grossa, por iniciativa de 2 estudantes indígenas da instituição. A realização do curso é que motivou o grupo a criar o coletivo para organizar as ações que serão desenvolvidas na sequência, como outros eventos e projetos de extensão e pesquisa, em âmbito de iniciação científica.
Música e Vídeo
Entrelaçamento das fronteiras entres a teoria, a prática e a intervenção
Iniciamos este texto contando um pouco sobre nossa participação no LET. Inserimo-nos neste a partir do momento em que a Coordenadora do programa, professora Djane Antenucci Correa, manifestou sua intenção de criar um espaço multidisciplinar, tendo como eixo de referência os estudos sobre a linguagem. Percebemos que poderíamos contribuir, além de aprender, é claro, outras formas de trabalhar com linguagem.
“Ensinar ou aprender algo é um processo político, social e histórico que abarca também as crenças de todos os envolvidos”.
Nesse sentido, fazemos parte deste grupo, seja como ministrante de cursos, projetos e eventos, ou ainda como participante de eventos diversos que o LET vem propondo no decorrer destes anos. Dessa forma, corroborando com o eixo e referência proposto pelo programa que rompe com a predominância das disciplinas engavetadas, neste espaço procuramos promover o entrelaçamento das fronteiras entre a teoria, a prática e a intervenção, de maneira direta e também indireta, nas estruturas acadêmicas, educacionais e sociais.
Assim, partindo de nossa vivências nas salas de aula da educação básica e, posteriormente, na universidade, nos deparamos com muitas situações relativas à prática docente que nem sempre conseguimos compreender em sua totalidade, fato este que desencadeou ao longo de nossa vivência acadêmica questionamentos como: Qual(is) diferença(s) existe(m) entre ser professor de “língua materna” “língua estrangeira”? Ou o que caracteriza/diferencia este último em relação àquele? Podemos dizer que essas inquietações sempre estiveram, de uma forma ou de outra, presentes em nossa vida acadêmica.
Nossa participação no LET serviu para percebermos que ensinar ou aprender algo é um processo político, social e histórico que abarca também as crenças de todos os envolvidos, direta ou indiretamente, como alunos, professores, direção, coordenação pedagógica, enfim, todas as pessoas ligadas ao prcoesso educacional formal. dessa forma, nossa vivência como professora integrante desse espaço de negociações, troca de experiências, pesquisas de ensino, pesquisa e extensão tem no sproporcionado observar, refletir, questionar e refutar várias questões relativas ao ensino e à aprendizagem no sentido plural que se complementa a partir de cada encontro, leitura e debate realizados no LET.